De repente veio em sua cabeça “Quero ser homem”. Inpirou com tanta determinação que seus seios falsos se empinaram. Fez um micro gesto com o canto da boca. “E agora?” Lembrou da merda que fizerá a anos atrás quando decidiu ser travesti. Nunca pensou que ele(ou ela, sei lá) poderia mudar de opinião. “Pelo menos ainda tenho meu ‘littler boy’”.
Não sei ao certo o que o fez pensar nisso tão do nada. Tenho raiva dos professores de português que dizem que eu sou um narrador oniciente. Eu não sou deus. Só sei o suficiente para que você conheça a história do colega que queria ser homem. E o que importa, é que ele(ou ela, sei lá) estava pouco dinheiro no banco, ou qualquer outro lugar. Sua vida de acompanhante é bastante rentável, não se engane. Mas eu não me lembro o porquê dele estar com pouco dinheiro. Talvez alguma festa, alguma compra. Qualquer coisa do tipo. Como ele iria pagar por uma cirurgia para voltar a ser homem. Retirar aqueles seios falsos. Aquela bunda siliconada. Teria que cortar o cabelo. Parar de usar suas maquiagens. Aprender a falar como homem. Começar a fazer coisas diferentes e pesadas na academia.
“Não pode ser tão ruim assim. Ser homem. Tanta gente é”. Pensou em tomar um copo d’água “Não. Beber água é pra viados. Agora eu sou homem. Quero um chop”. Infelismente ele não tinha chop em casa, e estava aconchegado demais em casa pra sair pra comprar. Decidiu tomar refri sem gás e com um leve gosto de hortelã.
”Qual emprego eu vou arrumar. Tem que ser um emprego bem de macho. Caminhoneiro, lógico. Jogador de futebol. Aii... Por que só me vem a cabeça aero-moça? Que arraso. Não posso ser cabelereiro, tem má fama. Taxista é bom. Camelô... Não, eu quero ganhar dinheiro de verdade. E se eu fazer engenharia civil? Eu posso ganhar dinheiro, ganhar prestigio social e mulheres bonitas. Só que tenho que passar sei lá quantos anos estudando. E agora?”
Isso ela(ou ele, sei lá) poderia resolver depois. Mas ela(ou ele, sei lá) tinha que arrumar dinheiro. Pegou o celular que mais ninguém podia pegar além dela propria e procurou o nome de alguém com quem pudesse conversar. Para sua loucura, só quem podia lhe ajudar eram pessoas com as quais não gostaria de conversar e nem podia contar. Jogou o celular que mais ninguém podia pegar além dela propria de lado. Pensou que como mulher, ela (ou ele, sei lá) era bastante bonita. Se fosse uma mulher de verdade, com aquela aparência, todos os homens correriam atrás dela.
Mais tardar, no outro crepúsculo, decidiu o que iria fazer para ter capital para ser o que sempre foi. “Vou continuar como acompanhante, faço econimias, e voilá. Poderei ser homem”. Dessa vez, ela(ou ele, sei lá) tinha comprado chop. E enquanto bebia e se congratulava por sua esperteza, virilidade e masculinidade, sentia falta do gosto do refri sem gás e com um leve gosto de hortelã.
Depois de alguns meses, Quando estava já na sala de cirurgia, veio-lhe uma ídeia de supetão. Prendeu a respiração e fechou os olhos. Queria ter coragem para dizer ao médico o que acabará de pensar.
“Doutor. Cancele a cirurgia. Acabei de lembrar que meu pai e minha mãe vão esfregar na minha cara pelo resto de minha vida que eles estavam certos em dizer que minha orientação sexual era uma fase e iria passar. E eu não estou afim de ouvir isso. Prefiro continuar com minha profissão e minha vida felizes como estão, até que eu morra e Deus me julgue culpada(finalmente, culpad’a’, no feminino) por ser uma “puta de luxo” ou inocente por AMAR os homens”.
O médico estava estarrecido, as enfermeiras estavam gélidas e o colega que queria ser homem, nunca mais quis ser homem novamente.