segunda-feira, 8 de agosto de 2022

Vergonha de ter amado

Eu tenho dúvidas. Preso em meus próprios pensamentos e mágoas. Porque eu sei o que vivi, sei o que senti, que nossa relação foi profundamente avassaladora... Para mim. Eu não consigo acreditar que nossa relação tenha sido grande coisa para ela. Não depois da forma como ela terminou comigo. Esse término, sempre soube que doeria muito profundamente, pois ela foi, desde o início, a mulher que eu mais amei. A mulher quem eu estive por completo, com quem tive a mais saudável das relações. E me dói muito que isso tenha sido jogado fora tão fácil. Tão rápido, como se fosse nada. Eu me sinto enforcado pelas minhas próprias ilusões. Queria acreditar que ela me amou, que ela ainda me ama, que se arrepende, que me quer de volta, que pensa sozinha na cama que fez besteira, mas não tem coragem para vir até mim.
Como eu queria que fosse isso. Mas tenho medo de sequer olhar suas redes e descobrir que o que ela me disse no fim era verdade. Que ela não tinha dúvidas.
Não querer saber da vida dela é como um apego a uma ilusão, pois a verdade é ainda mais dolorosa: a de que eu tive muito menos importância na vida dela do que ela teve para mim. Isso não deveria importar. Mas pra mim importa o mundo, porque ela foi o meu mundo. Tenho medo de ver a felicidade dela. Medo de descobrir que ela está tão bem sem mim enquanto eu não consigo. Enquanto eu sou tomado de ódio e rancor. Por isso eu queria esquecê-la, ou perdoá-la. Seguir em frente. Reconhecer a importância que ela teve na minha vida, mas como algo que passou e que não voltará. Mas tudo ainda é muito doloroso e temo que será uma dor tão grande, possivelmente até maior, quanto a que senti quando do término com a mãe da minha filha. Não amei a mãe da minha filha. E se amei, não de um jeito sadio. 
A verdade nua e crua é que eu tenho vergonha. Vergonha de ter amado. Quando o que eu queria sentir era felicidade por ter encontrado um amor, mesmo que ele não tenha vingado e sido eterno como se propõem os amantes. Mas sinto vergonha mesmo de estar aqui, 4 meses depois, preso a esse sentimento que me entorta. "Eu não tenho dúvidas", ela disse. "Eu não consigo sequer me sentir triste de tão feliz que eu estou aqui", ela disse. "Eu percebi que você não estava entendendo o que estava acontecendo", ela disse. "Não faz assim porque mostra que você me amava de verdade. Eu vou ficar me sentindo muito má se você fizer isso", ela disse. "Eu não queria que você ficasse em Salvador. Eu só queria que você fosse embora para Recife", ela disse. "Eu não vou sair com você para a Barra", ela disse. "Eu estou disposta a te perder", ela disse. 
Quantas provas você precisa de que você foi nada além que um carinha qualquer com quem ela passava um tempo e falava coisas só pelo momento? Um carinha qualquer que existiu apenas satisfazer a incapacidade de ela ficar só sem uma figura masculina pra suprir as suas próprias questões paternas? Um carinha apenas para servi-la? 
Decepção.
Ela foi, sem dúvidas, a maior decepção da minha vida.
Eu me envergonho profundamente de não ter visto isso antes. Gostaria muito de poder voltar no tempo de me impedir de convidá-la para nosso primeiro encontro. De poder encontrar com ela no meio do caminho, dizer que vim do futuro e que ela não fosse ao meu encontro; que ela fosse encontrar o outro cara que a chamou pra fumar um na casa dele.
O que mais eu trouxe dessa história que não um buraco no peito? Um sentimento incurável de imprestabilidade? Um sentimento de que fui um lixo. Descartado. Iludido.
E mesmo assim, consigo sonhar com um dia qualquer que a gente se reencontre e ela me diga que cometeu um erro ao me deixar. Ou que diga que viveu outras histórias mas nunca teve dúvidas de que eu fui o homem que ela amou. Mas eu fui só uma passagem para a mulher por quem eu mais quis ser o homem de sua vida. Porque é assim que eu sinto em relação a ela. Por mais que eu me diga que a forma como ela agiu só mostra que ela mesma é muito pouco para mim. Ela mesma não me merece. Ela mesma não é o amor de minha vida, por tudo o que ela agiu comigo. Mesmo assim... Sou eu que não tenho dúvidas de que eu viver o resto da vida sabendo que eu encontrei o amor da minha vida e ela me descartou da forma mais fácil e desapegada o possível. Eu me sinto tão envergonhado. Tão envergonhado. Uma vergonha tão profunda de ter amado. Humilhado da forma mais profunda. E mesmo assim, eu a quero. E não quero mais querer. Mas me diga como não querer mais? Não é porque ela é linda. Não é a beleza. Não é porque o nosso sexo era gostoso. Não é só o sexo. Trata-se de ter sido uma relação absurdamente saldável e rara. E não acho que aquilo eu encontro novamente. Com nenhuma outra mulher. O nível de diálogo, o nível de intimidade, o nível de conexão. Eu nunca mais vou encontrar algo profundo e fluído como aquele namoro. Eu tenho tanto medo por mim mesmo. Medo de encontrar algum outro amor... Que nasça de um conformismo. Nasça da ideia de que não vou encontrar algo tão suave e gostoso quanto aquela relação e, para não ficar só, aceite menos. Medo de viver comparando minhas futuras relações àquela relação...
Por isso eu quero tanto esquecer. Como se nunca houvesse acontecido.
Não quero mais as lembranças. Não quero mais essa tristeza tão profunda.
Quero que ela desapareça para sempre. Quero que não exista mais ela na minha vida. Que ela viva a vida dela longe, sem que eu precise saber absolutamente nada dela. Quero enterrar essa dor bem escondido e nunca mais sentir isso novamente. Não sei se sobrevivo. Prefiro viver só a vida toda a sofrer essa dor novamente. Todos os momentos maravilhosos não valem o sofrimento que passo agora. Mesmo porque, foram apenas ilusões. E ela já nem liga. Já seguiu em frente... enquanto eu estou aqui preso e dolorido com isso E eu sou a única pessoa sofrendo. Eu sou a única pessoa que se importa. Sozinho. Absolutamente sozinho. Como sempre. Como eu sou a pessoa que ama demais, sentimentalista demais.