quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

Meu retorno

Nunca pensei que meu retorno seria tão querido, tão desejado. Quando saí de casa, já podia sentir o gosto da nostalgia e da profunda saudade, sentimento que tem se enraizado nos rincões do meu peito e me desnorteado. Sonho dia e noite. Estou feliz, estou suave, no entanto, não estou pleno ou completo. Penso: "ah! por que não aproveitar o momento e a vida como ela é, tal qual ela se apresenta?".

Há aquela sensação indelével de quem sabe que a vida tem mistérios e que cada história é uma história, que talvez, algum dia tudo fará sentido. Mas... Eu não estou onde queria estar, não estou no meu lar...

Meu lar.

Sinto-me só, exilado, desmotivado. 

Tenho medo até de me apegar ou me apaixonar e querer ficar aqui, de escolher ficar neste lugar. Ao mesmo tempo em que sei que não tenho como lutar contra o futuro, contra o inexorável destino.

Meu lar não é aqui.

Tenho medo de ser escolhido por uma mulher. Perder-me de amor, desatar o nó que atado no meu coração, de entregar-me de corpo e alma, no escuro, sem saber se há um chão. Medo de sentir o veneno de não ser amado, de ser deixado, de ser preterido. É inevitável não pensar, já não luto mais contra minha essência. Eu simplesmente considero tudo.

Imagino eu lutando por uma mulher daqui, apaixonado por uma mulher plenamente apaixonante. Consigo até sentir as minhas próprias batalhas mentais, meus receios e esperanças. Consigo prever eu me autossabotando e, portanto, sabotando um possível relacionamento por ter na mente a visão ou o medo de que não poderei pedir a ela para me acompanhar para meu lar. Já consigo ver eu tendo que tomar a difícil decisão. Qual dos amores escolherei: Meu lar ou minha minha mulher? E por que que eu tenho que vir a tomar essa decisão? Como posso eu querer prever o futuro e saber que isso se sucederá a mim. Não posso eu simplesmente me resguardar e não me relacionar com ninguém daqui? ficar só, em meu exílio, simplesmente esperando o dia do meu retorno, simplesmente relacionando-me superficialmente com as mulheres que em minha vida  passarem?

Transar é bom. Mas amar é um universo.

Eu já estou cansado de simplesmente transar. Não que eu não goste, mas eu quero algo mais, não que isso signifique que eu não quero mais transar sem sentimentos, afinal, transar é bom. Mas é que eu já vivi tanto de sexo só por diversão, sem sentimento que eu creio querer variar um pouco. Afinal, já faz alguns anos que eu não transo com amor, com sentimento verdadeiro e forte. porém, vejo-me na contingência de não me permitir por causa de uma crença limitante de que ao me apaixonar por alguém daqui, estarei ajudando a criar as condições de minha própria desgraça sentimental. É uma armadilha que minha mente preparou pra mim. Se eu me envolver com alguém, sentirei-me mal, se não me envolver, também. Mente sã a minha. Muito sã. Sozinha e autocentrada. 

E eu quero acordar com uma mulher do meu lado, uma companheira, uma amiga, uma amante, uma mulher que eu deseje e admire e que ela sinta o mesmo por mim. Acordar e tocar-lhe a pele, emaranhar seus cabelos em meus dedos, ainda sonolento aconchegar-lhe em meus braços, ambos ainda quase dormindo, olhos ainda semi-cerrados. Tocar-lhe o corpo enquanto nos beijamos brevemente os lábios, evitando o hálito matinal, e assim nos acariciamos. Reconhecendo os traços do corpo, as curvas e os finos pelos, a textura da pele arrepiada. E, assim, ver despertar lentamente a libido mediante aquela respiração mais profunda que traduz o tesão em nosso corpo e a faz arranhar levemente minha pele, e por a mão em meu pênis já duro, sentir-lhe em sua mão, colar meu corpo ao dela e introduzir, ela mesma, meu pau em sua vagina molhada, e transarmos ali, pela plena manhã, com nossos odores se misturando, e seu cheiro de seu suor impregnando minhas narinas. Meus dentes cravando seu pescoço, seu ombro. Suas unhas leve-me roçando minha nuca e minhas costas e, quase desavisado, um beijo, uma frase: "eu te amo, porra!".

Eu quero um relacionamento safado e fofo ao mesmo tempo.

Mas eu, profundamente sentimental que sou, estou disposto a correr o risco de encontrar a mais profunda paixão em mim mesmo por uma mulher e descobrir que essa paixão me fará desistir de retornar ao meu lar? Não adianta dizer que eu devo simplesmente deixar as coisas acontecerem, pois elas já simplesmente acontecem, mesmo que eu fique aqui pensando e pensando tanto. Não adianta dizer pra eu seguir meu coração, pois meu medo é de justamente ter que confrontar dois amores, ou o de não ter nenhum. Simples seria se eu fosse tão só uma máquina.